quarta-feira, 27 de julho de 2011

O LUGAR DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

O LUGAR DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

Elaborado para fins exclusivamente didáticos

Thiago Chagas Oliveira[1]

Crato (CE), 17/06/2011

Este texto possui dois objetivos principais: (1) demarcar e justificar a importância da filosofia da educação para a formação do profissional da educação[2]; (2) pensar os limites e as possibilidades da filosofia da educação na formação do profissional da educação. Ele está dividido em três partes: a primeira apresenta, ainda que em linhas gerais, os conceitos de educação, filosofia e filosofia da educação; a segunda parte estabelece a relação entre educação e produção e reprodução da vida material; por fim, destaca a importância da filosofia da educação como ponto de partida para o desenvolvimento da profissionalidade docente. Defende a tese de que a filosofia da educação está na base da formação do profissional da educação, sobretudo do professor.

I PARTE: DEFINIÇÕES

Grosso modo, a educação significa a transmissão da cultura de um povo de um determinado lugar num determinado momento histórico. Envolve a transmissão dos costumes, hábitos, linguagem, tradições culturais, valores morais e religiosidade. Num sentido mais preciso, a educação compreende a transmissão dos saberes historicamente acumulados e necessários ao funcionamento da sociedade, bem como a sua reprodução.

Já com relação ao conceito de filosofia, não é fácil defini-lo. É difícil dar uma definição genérica de filosofia, já que esta varia não só quanto a cada filósofo, mas também em relação a cada período histórico. Diferentemente da ciência, que apresenta um saber específico, um conhecimento sobre o mundo real, a filosofia, conforme nos ensina Hegel, possui um caráter mais geral, mais abstrato, mais reflexivo, no sentido da busca que tornam possível o próprio saber. Além disso, a filosofia reflete sobre o sentido e o significado que os homens dão à vida social, política, econômica, cultural, psicológica, educacional, amorosa, religiosa etc.

Não seria forçoso dizer que a filosofia da educação, assim como a filosofia da história e a filosofia da arte, é um ramo especializado da filosofia que toma a educação como objeto de investigação, reflexão e problematização. Nesse sentido, pode-se dizer que a filosofia da educação indaga sobre o significado, intencionalidade e alcance da educação.

II PARTE: A relação entre educação e produção e reprodução da vida material

Conforme apresentado por Marx em O Capital (1866), precisamente no livro I, quinto capítulo, os homens começaram a se diferenciar dos animais a partir do momento em que começaram a produzir seus meios de sobrevivência. Diferentemente dos animais, que agem sobre a natureza a partir de uma base genética pré-determinada, os homens agem sobre a natureza a partir de uma ideação-prévia (teleologia/ intencionalidade). O ato consciente de transformação da natureza para o atendimento de suas necessidades mais elementares leva ao aparecimento de necessidades cada vez mais complexas. É exatamente a contínua capacidade de resolução dessas necessidades sempre mais complexas que detona o desenvolvimento das potencialidades físicas, mentais e espirituais do homem. Existe uma relação dialética entre a transformação do mundo operada pelo trabalho humano e a formação humana.

No ato contínuo de transformação da natureza para o atendimento de suas necessidades, o homem aprende, produz e acumula conhecimentos e se desenvolve (o homem como um ser teórico-prático). É precisamente a necessidade de transmissão desse corpo de conhecimentos que caracteriza a educação como um fenômeno (i) historicamente determinado e (ii) absolutamente fundamental à produção e à reprodução da existência humana. Isto não significa dizer que o fenômeno educacional está imediatamente colado no processo de produção e reprodução da vida material. O desenvolvimento e a complexificação do trabalho e o acúmulo de conhecimentos geram um complexo social especificamente responsável pela formação das novas gerações (a escola).

Recapitulando: a educação é um complexo da vida social que está diretamente relacionada às múltiplas dimensões da produção e da reprodução da vida humana. Na medida em que o processo de transformação da natureza pelo homem é variável (a forma como homem produz a sua vida material hoje, por exemplo, é muito diferente da forma como ele produzia na Idade Média), a educação é um fenômeno em constante transformação, ou seja, um fenômeno histórico.

Neste texto, importa destacar a compreensão de que o ato educativo formal, como fenômeno humano e como dimensão absolutamente fundamental à vida humana, é estruturalmente caracterizada por processos contínuos de intencionalidade. Isto significa que: por trás das metodologias de ensino e da organização do currículo escolar, existem inúmeros objetivos, dentre os quais eu destaco a: (i) a transmissão dos saberes historicamente acumulados; (ii) a transmissão do legado cultural de determinada sociedade (história e linguagem); (iii) a formação cívica do indivíduo (político); (iv) a formação dos indivíduos para o mundo do trabalho (econômica). Cabe à filosofia da educação refletir teoricamente sobre este processo em suas múltiplas dimensões.

A filosofia da educação faz perguntas como: qual é o papel da educação em determinada sociedade? Como se inter-relacionam as múltiplas facetas do fenômeno educacional? Quais são os objetivos políticos, econômicos, sociais e culturais que norteiam determinada proposta educacional? As condições educacionais oferecidas pelo Estado são as mesmas para todos os indivíduos da sociedade? Que valores morais orientam determinada proposta educacional?

III PARTE: A filosofia da educação como ponto de partida para o desenvolvimento da profissionalidade docente

É papel da filosofia da educação analisar, refletir, problematizar e pormenorizar a inter-relação destas múltiplas facetas do fenômeno educacional. Muito mais do que respostas prontas e acabadas, geralmente coladas na aparência empírica imediata, ou seja, no senso comum, a filosofia da educação busca a essência do fenômeno educacional. Como diz Marx em O Capital, se aparência e essência coincidissem, não seria necessário o pensamento investigativo, problematizador e crítico. A partir da contradição entre aparência e essência, a filosofia da educação tece seu discurso, levanta hipóteses, constrói métodos, aponta soluções, revela a essência do fenômeno educacional.

Ora, se a educação é um fenômeno estruturalmente marcado por processos de intencionalidade diversos, é papel da filosofia da educação auxiliar o futuro profissional da educação ao exercício do pensamento reflexivo, investigativo, problematizador e crítico. É a filosofia da educação que sedimentará a base teórico-metodológica necessária à análise crítico-conceitual dos objetivos que sustentam a educação de determinada organização social. Ou seja, a filosofia da educação possibilita a formação de um pensamento investigativo, autônomo e crítico.

Ressalte-se, para terminar, que todo trabalho pedagógico assenta-se numa determinada concepção de homem e sociedade. Isto significa que a elaboração de uma concepção consciente e crítica acerca do mundo social circundante é uma exigência absolutamente fundamental ao desenvolvimento do trabalho pedagógico. Gramsci traduz esta exigência quando enuncia a seguinte questão: é preferível “pensar” sem disto ter consciência crítica, isto é, “participar” de uma concepção de mundo “imposta” mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na “atividade intelectual” do vigário ou do velho patriarca, cuja “sabedoria” dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação) ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?” (2001, p.93)

Acreditamos que a adoção de uma concepção de mundo consciente e crítica é uma exigência necessária à construção de outros saberes necessários ao quefazer docente: escolha de um método de ensino, organização curricular, avaliação etc. Compreendemos, assim, que a filosofia da educação está na base da formação do profissional da educação, sobretudo do professor.



[1] Professor de filosofia da educação da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutorando em Educação (UFC). thiagochagas@yahoo.com.br

[2] Profissional da educação= professores, gestores escolares, secretários de educação, diretores, coordenadores, pedagogos, psicólogos educacionais etc.

ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO: IDEALISMO, REALISMO E CONCEPÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL

Thiago Chagas Oliveira

Crato (CE), Julho de 2011

Elaborado para fins exclusivamente didáticos

Questões problematizadoras:

(1) A educação tem a função de realizar o que homem deve ser. Como deve ser o homem?

(2) Terá o homem uma essência completa desde o início ou estará em formação, em transformação, pelo menos em alguns domínios?

(3) O indivíduo desenvolve-se por ação das suas forças exteriores ou, pelo contrário, pela sua participação no mundo histórico e social?

(4) Dar à criança a possibilidade de um desenvolvimento livre e espontâneo ou moldá-la de acordo com normas e preceitos pré-estabelecidos?

INTRODUÇÂO

As questões acima são respondidas por três concepções filosóficas: (i) idealismo (ou essencialismo); (ii) realismo (ou naturalismo) e (iii) dialética (ou concepção histórico-social). Antes de mostrar que estas concepções filosóficas protagonizam e polarizam um debate pedagógico histórico que se estende até os dias atuais (SUCHODOLSKI, 1992, p.25 – 32), faz-se necessário defini-las.

Grosso modo, idealismo significa a interpretação da realidade do mundo exterior ou material em termos do mundo interior, subjetivo ou espiritual. O realismo, por sua vez, é uma concepção filosófica segundo a qual existe uma realidade exterior, determinada, autônoma, independente do conhecimento que se pode obter sobre ela.

No campo educacional, o debate idealismo x realismo pode ser sintetizado da seguinte forma: “o conflito entre, por um lado, o princípio do pleno desenvolvimento do que no indivíduo é humano e universal e, por outro, a necessidade de ter em conta as condições da sua vida real”. (Idem, ibidem, p.114).

A concepção histórico-social, por sua vez, enfatiza a interação dialética entre homem e mundo, sujeito e objeto, essência e existência, aparência e essência.

IDEALISMO (OU ESSENCIALISMO)

Para o idealismo a razão é a força que orienta a vida humana. A educação cumpre duas funções principais: (i) combater tudo o que se opõe ao desenvolvimento humano, ampliando tudo o que lhe é próprio (Idem, ibidem, p.33); (ii) realizar aquilo que o homem deve ser. A educação é concebida como meio para desenvolver no homem tudo o que implica sua participação na realidade ideal, tudo o que define a sua essência verdadeira (Idem, ibidem, p.29).

Comenius (1592 – 1670), por exemplo, defende com energia o princípio de que a educação deve formar o homem de acordo com uma finalidade previamente estabelecida (COMENIUS, 2006). Nessa perspectiva, a educação deve dar sua contribuição de modo que a verdadeira essência humana possa aflorar no homem.

Os idealistas rejeitam a noção de que o ponto de partida da educação é o indivíduo empírico, pois sua vida é uma vida de corrupção. (SUCHODOLSKI, 1992, p.43). Impõe-se, por isso, a necessidade de estabelecer um conjunto de ideais e normas que deviam ser inculcados à juventude com o rigor apropriado, mas que teria um caráter racional, claro, convincente e bem fundamentado. O trabalho pedagógico assenta-se na organização de um programa capaz de levar o educando a conhecer sistematicamente as etapas do desenvolvimento da humanidade (Idem, ibidem, p.77).

A educação é importante para os idealistas porque possui a capacidade de trazer à tona um grau mais elevado de autopercepção e autoconsciência. No livro Princípios da Filosofia do Direito, Hegel ilustra esta ideia dizendo que

a cultura (...) é a libertação, o esforço de libertação superior, (...) [para a] substancialidade não já imediata e natural mas espiritual e ascendida à forma universal.|Tal libertação é, no sujeito, o penoso esforço contra a subjetividade do comportamento, contra as exigências imediatas e também contra a vaidade subjetiva das impressões sensíveis e contra a arbitrariedade das preferências. (1998, p.172).

No caminho aberto por Hegel, os jovens hegelianos (SEC.XIX) viam na educação e na transformação das consciências o caminho para a transformação do homem e do mundo. Cumprindo esta função (o desenvolvimento da essência humana), a educação contribuiria para a construção de um mundo justo e melhor.

REALISMO (OU NATURALISMO)

A interpretação pedagógica realista parte do que o homem é na realidade, e não do que deveria ser. Esforça-se para demonstrar que o processo educativo está profundamente vinculado à vida real do homem. Ao tomar a existência do homem como fulcro de sua educação, Rousseau assentou as bases da pedagogia realista: “... nossos verdadeiros mestres são a experiência e o sentimento, e o homem só sente bem o que convém ao homem nas relações em que se acha”(ROUSSEAU, 1999, p.223).

Os realistas pressupõem que a vida social pode e deve basear-se nos homens tal como existem realmente e não requer de modo nenhum homens reformados de com acordo com uma pedagogia da essência. Hobbes, por exemplo, dizia que não se deve reformar o homem, mas adaptar a organização social à natureza humana (HOBBES, 2007).

Os materialistas franceses do século XVIII (Condillac (1715- 1780) e Helvétius (1715-1771) ), por exemplo, atribuíam ao meio social um papel determinante na formação dos organismos vivos. O homem, por exemplo, seria considerado um produto das circunstâncias.

A CONCEPÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL

Para tratar da concepção histórico-social, abordaremos seu principal representante: Karl Marx (1818 – 1883). No século XIX, Marx avança no debate pedagógico entre existência e essência. Em sua sexta tese sobre Feuerbach (1804 – 1872), diz que “a essência do homem não é uma abstração inerente ao indivíduo isolado. Na sua realidade, ela é o conjunto das relações sociais” (1998, p.101). Nesta tese Marx recusa a concepção de um indivíduo humano passivo, modelado e formado unicamente pelo exterior, assim como a visão idealista dos jovens hegelianos, que viam na educação e na transformação das consciências o caminho para a transformação do homem e do mundo.

Não basta, compreende Marx, simplesmente mudar a sociedade para que o homem mude. O conflito entre essência e existência é superado de modo dialético: “Se o homem é formado pelas circunstâncias, será necessário formar as circunstâncias humanamente” (Marx, 2003, p.150) ou ainda “as circunstâncias fazem os homens tanto quanto os homens fazem as circunstâncias.” (Marx, 1998, p.36).

Ao tomar o trabalho (isto é a atividade teórico-prática do homem) como princípio educativo por excelência, Marx avança no debate entre existência e essência e supera a separação entre estas duas dimensões. Para Marx, o eixo norteador do processo pedagógico escolar se relaciona dialeticamente à pratica social concreta dos homens.

Antes de qualquer, diz Marx, “o homem precisa estar em condições de viver para fazer história.” (1998, p.21- 22). O primeiro ato histórico é a produção dos meios necessários que permitem a satisfação das necessidades de comer, vestir-se, beber, ter habitação e algumas coisas mais” (Idem, ibidem, p. 21 – 22). O trabalho, por isso, aparece como elemento fundante do ser social. “O trabalho é a condição de toda vida humana, é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza e, portanto, de manter a vida humana” (MARX, 2004, p.66).

O ato consciente do homem de transformação da natureza para o atendimento de suas necessidades mais elementares leva ao aparecimento de necessidades cada vez mais complexas. É exatamente a capacidade de resolução dessas necessidades cada vez mais complexas que gera o desenvolvimento das potencialidades físicas, mentais e espirituais do homem. Existe uma relação dialética entre a transformação do mundo operada pelo trabalho humano e o desenvolvimento e a formação do homem. Supera-se, assim, a dicotomia entre existência e essência, entre sujeito e objeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMENIUS. Didática Magna. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2007.

MARX, Karl. A Sagrada Família. Tradução de Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 2003.

_____________________ . A Ideologia Alemã. Tradução de Luis Cláudio de Castro e Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

____________________ . O capital: crítica da economia política (livro I – Volume I). Tradução de Reginaldo Sant’Anna. 22 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

ROUSSEAU, Jean Jaques. Emílio ou da Educação. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

SUCHODOLSKI, Bogdan. A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas: a pedagogia da essência e a pedagogia da existência. Tradução de Liliana Rombert Soeiro. Lisboa: Biblioteca do Educador, 1992.

domingo, 3 de julho de 2011

RELATOS DO FILME O NOME DA ROSA

Frades no filme O Nome da Rosa


INTRODUÇÃO

A Baixa Idade Média (século XI ao XV) é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental. Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera econômica (crescimento do comércio monetário), social (projeção da burguesia e sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas, que culminarão com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.

Culturalmente, destaca-se o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antigüidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.

No filme, o monge franciscano representa o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.


1. Contextualização

Discussão dos elementos formadores da cultura moderna, o surgimento do pensamento moderno, no período da transição da Idade Média para a Modernidade.

O Filme

O Nome da Rosa pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E Guilherme de Bascerville, o frade fransciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço.

O Tempo

Trata-se do ano 1327, ou seja, a Alta Idade Média. Lá se retoma o pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental que dará origem à filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e o neoplatonismo do cristianismo. As teses de Agostinho nos ajudarão a entender o que se passa na biblioteca secreta do mosteiro em que se situa o filme.

Doutrina Cristã

Neste tratado, Santo Agostinho estabelece precisamente que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã, desde que seja compatível com a fé (Livro II, B, Cap. 41). Isto vai constituir o critério para a relação entre o cristianismo (teologia e doutrina cristã) e a filosofia e a ciência dos antigos. Por isso é que a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. O acesso à biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que pode ameaçar a doutrina cristã. Como diz ao final Jorge de Burgos, o velho bibliotecário, acerca do texto de Aristóteles – a comédia pode fazer com que as pessoas percam o temor a Deus e, portanto, faz desmoronar todo esse mundo.


2. Disputa de Filosofia

Entre os séculos XII e XIII temos o surgimento da escolástica, que constitui o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa. A escolástica significa literalmente "o saber da escola", ou seja, um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época.

2.1 Influência aos Pensamentos

A influência desse saber corresponde ao pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (mulçumanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim. Essas obras continham saberes filosóficos e científicos da Antigüidade que despertariam imediatamente interesses pelas inovações científicas decorrentes.

2.2 Consolidação Política

A consolidação política e econômica do mundo europeu fazia com que houvesse uma maior necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico: na arquitetura e construção civil, com o crescimento das cidades e fortificações; nas técnicas empregadas nas manufaturas e atividades artesanais, que começam a se desenvolver; e na medicina e ciências correlatas.

2.3 Pensamento Aristotélico

O saber técnico-científico do mundo europeu era nesta época extremamente restrito e a contribuição dos árabes será fundamental para este desenvolvimento pelos conhecimentos de que dispunham de matemática, de ciências (física, química, astronomia, medicina) e de filosofia. O pensamento agora (Aristotélico) será marcado pelo empirismo e materialismo.


3. A Época

O enredo desenvolve-se na ultima semana de 1327, num monastério da Itália medieval. A morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita - um deles, num barril de sangue de porco, é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação. A obra é atribuída a um suposto monge, que na juventude teria presenciado os acontecimentos.

Este filme é uma crônica da vida religiosa no século XIV, e relato surpreendente de movimentos heréticos. Para muitos críticos, o nome da rosa é uma parábola sobre a Itália contemporânea. Para outros, é um exercício monumental sobre a mistificação.


4. O Título

A expressão "O nome da Rosa" foi usada na Idade Média significando o infinito poder das palavras. A rosa subsiste seu nome, apenas; mesmo que não esteja presente e nem sequer exista. A " rosa de então" , centro real desse romance, é a antiga biblioteca de um convento beneditino, na qual estavam guardados, em grande número, códigos preciosos: parte importante da sabedoria grega e latina que os monges conservaram através dos séculos.


5. Biblioteca do Mosteiro

Durante a Idade Média umas das práticas mais comuns nas bibliotecas dos mosteiros eram apagar obras antigas escritas em pergaminhos e sobre elas escreve ou copiar novos textos. Eram os chamados palimpsestos, livretes em que textos científicos e filosóficos ma Antigüidade clássica eram raspados das páginas e substituídos por orações rituais litúrgicos.

O nome da rosa é um livro escrito numa linguagem da época, cheio de citações teológicas, muitas delas referidas em latim. É também uma crítica do poder e do esvaziamento dos valores pela demagogia, violências sexuais, os conflitos no seio dos movimentos heréticos, a luta contra a mistificação e o poder. Uma parábola sangrenta patética da história da humanidade

Baseado: No romance de mesmo nome de Umberto Eco.

5.1 - Pensamento

O pensamento dominante, que queria continuar dominante, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo os escolhidos. No O nome da Rosa, a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar no final era morto. Só alguns tinham acesso. É uma alegoria do Umberto Eco, que tem a ver com o pensamento dominante da Idade Média, dominado pela igreja. A informação restrita a alguns poucos representava dominação e poder. Era a idade das trevas, em que se deixava na ignorância todos os outros.


6. História

Em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Considerando que ele não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado.

O ano é 1327. Representantes da Ordem Franciscana e a Delegação Papal se reúnem num monastério Beneditino para uma conferência. Mas a missão deles é subitamente ofuscada por uma série de assassinatos. Utilizando sua brilhante capacidade de dedução, o monge franciscano William de Baskerville (Sean Connery), auxiliado pelo seu noviço Adso de Melk (Christian Slater), se empenha para desvendar o mistério. Mas antes que William possa completar sua investigação, o monastério é visitado pelo seu antigo desafeto, o Inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham). O poderoso Inquisidor está determinado a erradicar a heresia através da tortura e se William, o caçador, persistir na sua busca, também se tornará caça. Mas à medida que Bernardo Gui se prepara para acender a fogueira da Inquisição, William e Adso voltam à biblioteca labirintesca e descobrem uma verdade extraordinária ...


Resumo de O Nome da Rosa

Do ponto de vista do filme que hoje está sendo abordado, notamos que a história passa em um mosteiro na Itália Medieval. A idade média assistiu, em sua agonia um grande debate Filosófico Religioso. Perdido o equilíbrio do tomismo, o homem medieval caiu em dois extremos opostos.

De um lado os humanistas racionalistas Frei Guilherme de Ockham, um édito moderno. Tais humanistas cultivaram o antropocentismo julgaram que graças Pa ciências e a técnica, o homem seria capaz de vencer todas as misérias do mundo, até criar uma era de grande prosperidade material e de completa felicidade natural.

De outro lado místicos com visão extremamente pessimista da realidade. Para eles o mundo era intrinsecamente mau e irredimível por ser obra de um DEUS perverso, distinto da divindade. Acreditavam que a razão humana era má e só seria desejável perder-se no nada divino.

No mosteiro, sete monges morrem estranhamente, isto aborda muito a violência.

Há também uma violência sexual, no qual mulheres se vendem aos monges em troca de comida e muitas vezes depois são mortas.

Movimentos ecléticos do século XIV, a luta contra a mistificação, o poder, o esvaziamento de valores pela demagogia, são mostrados em um cenário sangrento sobre a política da historia da humanidade.


BIBLIOGRAFIA

Filme O Nome da Rosa , Globo Filmes e Produçoes

Livro O Nome da Rosa, Autor.: Umberto Eco

Autoria: Kledson Bruno Camargo

A Educação na Roma e o papel da Mulher.

A educação na Roma arcaica teve, sobretudo, caráter prático, familiar e civil, destinada a formar em particular o civis romanus, superior aos outros povos pela consciência do direito como fundamento da própria “romanidade”. Os civis romanus era, porém, formado antes de tudo em família pelo papel central do pai, mas também da mãe, por sua vez menos submissa e menos marginal na vida da família em comparação com a Grécia. A mulher em Roma era valorizada como mater famílias, portanto reconhecida como sujeito educativo, que controlava a educação dos filhos, confiando-os a pedagogos e mestres. Diferente, entretanto, é o papel do pai, cuja auctoritas, destinada a formar o futuro cidadão, é colocada no centro da vida familiar e por ele exercida com dureza, abarcando cada aspecto da vida do filho (desde a moral até os estudos, as letras, a vida social). Para as mulheres, porém, a educação era voltada a preparar seu papel de esposas e mães, mesmo se depois, gradativamente, a mulher tenha conquistado maior autonomia na sociedade romana. O ideal romano da mulher, fiel e operosa, atribui a ela, porém, um papel familiar e educativo.
Escola romana

Foi a partir do século Ii a. C. que em Roma também se foram organizando escolas segundo o modelo grego, destinadas a dar uma formação gramatical e retórica, ligada à língua grega. Só no século I a. C. é que foi fundada uma escola de retórica latina, que reconhecia total dignidade à literatura e à língua dos romanos. Pouco tempo depois, o espírito prático, próprio da cultura romana, levou a uma sistemática organização das escolas, divididas por graus e providas de instrumentos didáticos específicos (manuais). Quanto aos graus, as escolas eram divididas em: 1. elementares (ou do litterator ou ludus, dirigidas pelo ludi magister e destinadas a dar a alfabetização primária: ler, escrever e, freqüentemente, também calcular; tal escola funcionava em locais alugados ou na casa dos ricos; as crianças dirigiam-se para lá acompanhadas do paedagogus, escreviam com o estilete sobre tabuletas de cera, aprendiam as letras do alfabeto e sua combinação, calculavam usando os dedos ou pedrinhas – calculi - , passavam boa parte do dia na escola e eram submetidas à rígida disciplina do magister, que não excluía as punições físicas); 2. secundárias ou de gramática (nas quais se aprendia a cultura nas suas diversas formas: desde a música até a geometria, a astronomia, a literatura e a oratória; embora predominasse depois o ensino literário na sua forma gramatical e filosófica, exercido sobre textos gregos e latinos, através da lectio, da enarratio, da emendatio e do judicium); 3. escolas de retórica – política, forense, filosófica etc. – e elaboravam –se as suasoriae ou discursos sobre exemplos morais e as controversiae ou debates sobre problemas reais ou fictícios). Embora mais limitada em comparação à educação grega (eram escassas a gramática, a música, e também a ciência e a filosofia), mais utilitária, a formação escolar romana mantém bem no centro este princípio retórico e a tradição das artes liberais, resumidas no valor atribuído à palavra.

http://www.pedagogia.com.br/historia/romano2.php
fonte: